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Que fazer agora? O que inventar? Seja como for, não vou me reconhecer vencido e esperar, sem qualquer iniciativa, a chegada do barco!

Deitado no banheiro comum, ao abrigo de um sol de chumbo, posso examinar, sem despertar atenção, o movimento das sentinelas sobre o muro de ronda. De noite, a cada dez minutos, elas gritam, cada qual por sua vez. “Sentinelas, posição de sentido!” Dessa maneira, o chefe do posto é capaz de verificar se alguma das quatro não está dormindo. Se uma não responde, a outra torna a gritar sua ordem, até obter resposta.

Acredito ter encontrado uma falha. Com efeito, de cada abrigo, nos quatro cantos do caminho de ronda, pende uma caixa amarrada a uma corda. Quando a sentinela quer café, chama o cafetero, que lhe manda um ou dois cafés pela caixa. O soldado não precisa mais do que puxar a corda. Ora, o abrigo da extrema direita tem uma espécie de torrezinha, que avança, um pouco por cima do pátio. E eu penso que, se fabricasse um gancho grande, amarrado na ponta de uma corda trançada, ele se engancharia com facilidade. Em poucos segundos, devo ser capaz de atravessar o muro, que dá para a rua. Único problema: neutralizar a sentinela. Como?

Eu a vejo se erguer e dar alguns passos sobre o muro de ronda. O soldado me dá a impressão de estar incomodado pelo calor e de lutar para não cair no sono. O negócio é este, pelo amor de Deus! É preciso que durma. Vou primeiro confeccionar a corda e, se encontrar um gancho seguro, adormecê-la e tentar a sorte. Em dois dias, está trançada uma corda de cerca de 7 metros, com todas as camisas de tecido forte que foi possível encontrar, sobretudo as camisas cáquis. O gancho foi relativamente fácil de encontrar. É o suporte de um dos toldos fixados nas portas das celas, para protegê-las da chuva. Joseph Dega me trouxe uma garrafa com um sonífero muito forte. Segundo as indicações, deve ser domado em doses de dez gotas apenas. A garrafa contém aproximadamente seis colheronas de sopa. Vou acostumando a sentinela a que aceite que eu lhe ofereça o café. O soldado manda a caixa e eu lhe envio, de cada vez, três cafés. Como todos os colombianos gostam da cachaça e como o sonífero tem um pouco o gosto do anis, mando que me tragam de fora uma garrafa de anis. Digo à sentinela:

– Você quer um café à francesa?

– Como é isso?

– Misturado com anis.

– Vá lá, quero primeiro provar.

Vários soldados experimentaram meu café com anis e, agora, quando ofereço café,” me dizem: “Ã francesa!”

– Como queira.

E zás! Boto o anis no café.

Chegou a hora H. Meio-dia, é um sábado. Faz um calor de rachar. Meus amigos acham que é impossível haver tempo para dois passarem, mas um colombiano de nome árabe, Ali, me diz que subirá atrás de mim. Aceito. Isso evita que um francês faça papel de cúmplice e seja punido mais tarde. Por outro lado, não posso ter a corda e o gancho comigo, porque a sentinela terá todo tempo para me observar, enquanto lhe dou o café. Em nossa opinião, em cinco minutos ele deve estar dormindo.

Está na hora. Chamo a sentinela.

– Tudo bem?

– Tudo.

– Quer tomar um café?

– Sim, à francesa, é melhor.

– Espere, vou trazer.

Vou ao cafeteiro: “Dois cafés”. Já coloquei na minha garrafa o frasco de sonífero. Se com isso ele não cair duro… Chego debaixo dele e ele me vê derramar o anis bem ostensivamente.

– Você quer forte?

– Sim.

Boto ainda um pouco, deposito tudo na caixa e ele puxa a corda depressa.

Cinco minutos, dez, quinze, vinte minutos passam! O soldado não dorme. Pior ainda, em vez de ficar sentado, dá alguns passos cora o fuzil na mão, indo e vindo. No entanto, bebeu tudo. E a mudança da guarda é à 1 hora.

Como quem pisa sobre brasas, observo seus movimentos. Nada indica que esteja drogado. Ah! Cambaleou. Sentou diante da guarita, o fuzil entre as pernas. A cabeça dele se inclina por cima do ombro. Meus amigos e dois ou três colombianos, por dentro desta estória, acompanham suas reações tão apaixonadamente quanto eu.

– Depressa – digo ao colombiano -, a corda!

Ele se prepara para lançá-la, quando o guarda se levanta, deixa cair o fuzil no chão, se espicha e começa a movimentar suas pernas como se marcasse passo no mesmo lugar. De repente, o colombiano pára. Restam dezoito minutos antes da substituição. É então que começo, mentalmente, a invocar o socorro de Deus: “Eu lhe peço, ajude-me ainda uma vez! Eu lhe suplico, não me abandone!” Mas é inútil que invoque este Deus dos cristãos, às vezes tão pouco compreensivo, sobretudo com relação a mim, um ateu.

– E esta agora! – exclama Clousiot, aproximando-se de mim. – É extraordinário que este cretino não adormeça!

A sentinela torna a agarrar seu fuzil e, no momento em que se abaixa para levantá-lo, cai estatelada no caminho de ronda, como que fulminada. O colombiano joga o gancho, mas este não prende e torna a cair. Joga uma segunda vez. Agora prendeu. Ele puxa um pouco para ver se ficou bem firme. Eu examino e, no momento em que boto o pé no muro para fazer a primeira tração e começar a subir, ouço Clousiot:

– Cuidado! Aí vem a mudança.

Só tenho o tempo justo para me retirar antes de ser percebido. Inspirados por esse instinto de defesa e de camaradagem de prisioneiros, dez colombianos me cercam rapidamente e me misturam no grupo deles. Andamos ao longo do muro, deixando atrás de nós a corda suspensa. Um guarda da turma de mudança nota. de um só golpe de vista, o gancho e a sentinela arriada com seu fuzil. O soldado corre 2 ou 3 metros e aperta o botão de alarma, certo de que houve uma evasão.

Chegam para levar o soldado ferrado no sono com uma padiola. Há mais de vinte policiais sobre o caminho de ronda. Don Gregorio está com eles e manda puxar a corda. Segura o gancho nas mãos. Alguns instantes depois, com os fuzis em riste, os policiais investem pelo pátio. É feita a chamada. A cada nome, o interpelado deve voltar à sua cela. Surpresa! Não está faltando ninguém. Todo mundo é fechado à chave, cada um em sua cela.

Segunda chamada e controle, cela por cela. Não, ninguém desapareceu. Lá pelas 3 horas, deixam que a gente saia de novo ao pátio. Ficamos sabendo que a sentinela ronca de punhos fechados e que todos os recursos empregados não conseguiram despertá-la. Meu cúmplice colombiano se acha tão arrasado quanto eu. Ele estava tão convencido de que ia dar certo! Xinga os produtos americanos, porque o sonífero era americano.

– Que fazer?

– Hombre, recomeçar!

É tudo o que encontro para lhe dizer. Ele crê que eu quero dizer recomeçar para fazer dormir uma sentinela, ao passo que eu estava pensando em achar outra coisa. Ele me diz:

– Pensa que estes guardas são bastante idiotas para que um deles ainda queira beber um café à francesa?

Apesar do trágico deste instante, não posso deixar de rir.

– Sem dúvida, meu chapa!

O policial dormiu três dias e três noites. Quando, finalmente, acordou, compreendeu muito bem que tinha sido eu, certamente, quem o fez dormir com o café à francesa. Don Gregorio me manda chamar e me põe frente a ele. O chefe do corpo da guarda vem me bater com seu sabre. Salto para um canto do quarto e o provoco. O outro levanta o sabre, Don Gregorio se mete no meio, recebe o golpe em cheio no ombro e cai. Tem a Clavicula fraturada. Grita alto para que o oficial não se meta com o que não é de sua conta. Ele o reergue. Don Gregorio chama por socorro. Dos escritórios vizinhos acorrem todos os funcionários civis. O oficial, dois outros policiais e o soldado de sentinela que eu tinha feito dormir lutam contra uma dezena de civis, que querem vingar o diretor. Nessa “tangana”, vários homens recebem ferimentos leves. O único que não tem nada sou eu. O importante não é mais o meu caso, mas o do diretor com o oficial. O substituto do diretor, que foi transportado para o hospital, me reconduz para o pátio:

– Seu caso será visto mais tarde, francês.