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— Não teria sido tão difícil, senhor, se eles estivessem suficientemente dispostos. O grande problema teria sido conseguir alguma coisa que colocasse o Propulsor fora de ação permanentemente sem danificar a nave. Duvido muito que eles tivessem o conhecimento técnico necessário. Eles estavam trabalhando nisso — disse o comandante com uma expressão sombria.

— Teremos que rever todos os nossos procedimentos de segurança. Amanhã haverá uma conferência para todos os oficiais superiores, aqui, ao meio-dia. E então a cirurgiã-comandante Newton colocou a pergunta que todos hesitavam fazer: — Haverá uma corte marcial, comandante? — Não será necessário, já que os culpados foram encontrados. De acordo com o Regulamento da Nave, o único problema é a sentença. Todos esperaram, e continuaram esperando.

— Obrigado a todos, senhoras e senhores — disse o comandante, e seus oficiais saíram em silêncio. Sozinho em seu quarto, ele se sentiu traído e furioso. Mas pelo menos estava tudo acabado. A Magalhães havia atravessado a tempestade artificial. Ou outros três Sabras talvez fossem inofensivos, mas, e quanto a Owen Fletcher?

Sua mente vagueou até o mortífero souvenir no cofre. Ele era o comandante: seria fácil arranjar um acidente… Colocou de lado a fantasia. Ele nunca poderia realizá-la, é claro. De qualquer maneira, já tomara sua decisão e tinha certeza de que todos concordariam. Alguém já dissera uma vez que para cada problema existe uma solução que é simples, atraente, e errada. Mas esta solução, ele tinha certeza, era simples, atraente e absolutamente certa. Os Sabras queriam permanecer em Thalassa, então poderiam fazê-lo. Ele não duvidava que pudessem se tornar cidadãos valiosos, talvez precisamente os tipos esforçados e agressivos de que esta sociedade necessitava. Como era estranho que a história estivesse repetindo a si mesma. Como Magalhães, ele iria abandonar alguns de seus homens. Mas se os estava punindo, ou recompensando, não saberia senão dentro de trezentos anos.

VI — AS FLORESTAS DO MAR

44. BOLA ESPIÃ

O Laboratório Marinho da Ilha do Norte fora bem menos entusiástico: — Nós ainda precisamos de uma semana para reparar o Calypso — disse o diretor.

— E tivemos sorte de encontrar o trenó. É o único que temos em Thalassa e não queremos arriscá-lo de novo. „Eu conheço os sintomas”, pensou a cientista Varley. „Mesmo nos dias finais da Terra, ainda havia diretores de laboratórios que queriam manter seu lindo equipamento imaculado pelo uso.” — A não ser que Krakan, o filho ou o pai, se comporte mal novamente, não vejo nenhum risco. E os geólogos não prometeram que ele vai ficar por mais cinqüenta anos? — Eu fiz uma pequena aposta com eles a respeito disso. Mas francamente, por que acha tão importante? „Que visão curta!”, admirou-se Varley. „Sendo o homem um físico oceanógrafo, era de se esperar que tivesse algum interesse na vida marinha. Mas talvez eu tenha julgado mal, ele pode estar me sondando…”

— Nós temos certo interesse no assunto, desde que o Dr. Lorenson foi morto, felizmente de modo não permanente. Mas, apesar disso, nós achamos os scorps fascinantes. Qualquer coisa que possamos descobrir sobre a inteligência alienígena pode ter importância vital algum dia. E para vocês mais do que para nós, já que eles estão na porta de sua casa.

— Compreendo: Talvez seja bom que ocupemos nichos ecológicos tão diferentes. „Por quanto tempo?” — pensou a oficial de ciências. Se Moisés Kaldor estivesse certo…

— Diga-me intrigante. o que faz uma bola espiã. O nome é — Elas foram desenvolvidas há uns dois mil anos para funções de segurança e espionagem, mas tiveram muitas outras aplicações. Algumas não eram maiores do que cabeças de alfinete, mas, a que vamos usar tem o tamanho de uma bola de futebol. Varley espalhou os diagramas sobre a mesa do diretor.

— Esta aqui foi projetada especificamente para uso subaquático e eu fico surpresa que não esteja familiarizado com ela, já que sua data de introdução é antiga:

2045. Nós encontramos as especificações completas na Memória Técnica e alimentamos com ela o Replicador. A primeira cópia não funcionou, e ainda não sabemos por quê, mas a n.° 2 funciona perfeitamente. Aqui estão os geradores acústicos de dez megahertz. Assim, teremos uma resolução na faixa de milímetros. Dificilmente da qualidade de um vídeo, é claro, mas suficientemente boa. O processador de sinais é bem diferente. Quando a bola espiã está ligada, ele envia um único pulso, o qual constrói um holograma acústico de tudo que estiver dentro de um raio de vinte ou trinta metros. Ele transmite esta informação numa faixa estreita de duzentos quilohertz para uma bóia flutuando acima, que a retransmite para a base. A primeira imagem leva dez segundos para se formar, e então a bola espiã pulsa novamente. „Se não houver nenhuma mudança na imagem, ela envia um sinal negativo. Mas se alguma coisa acontecer, ela transmite a informação nova, de maneira que uma imagem atualizada seja gerada.”

„O que obtemos então é um instantâneo a cada dez segundos, suficientemente bom para a maioria dos propósitos. É claro que se as coisas estiverem acontecendo muito depressa nós teremos uma imagem borrada, mas não se pode ter tudo. O sistema funciona em qualquer lugar, na escuridão total, é difícil de ser localizado, e é econômico.” O diretor estava obviamente interessado e fazia o máximo que podia para ocultar seu entusiasmo.

— É um brinquedo muito habilidoso e pode ser útil para o nosso trabalho. Poderia nos fornecer as especificações e mais alguns modelos? — As especificações certamente, e vamos cuidar para que suas faces se relacionem perfeitamente com o seu replicador, de modo que possam fazer quantas cópias quiserem. O primeiro modelo operacional, e talvez os dois ou três seguintes, nós tencionamos atirar em Scorpville.

— E então sentaremos e esperaremos para ver o que acontece.

45. ISCA

A imagem era granulada e algumas vezes difícil de ser interpretada, a despeito do código em cores falsas revelar detalhes que o olho humano de outro modo não perceberia. Tratava-se de um panorama achatado em 360 graus do leito do mar, com uma visão distante de algas à esquerda, alguns afloramentos de rochas no centro e mais algas à direita. Embora parecesse uma fotografia estática, os números mudando no canto inferior esquerdo revelavam a passagem do tempo, e ocasionalmente a cena se modificava num súbito solavanco, quando algum movimento alterava o padrão de informação que era transmitido.

— Como podem ver — disse a comandante Varley à audiência convidada ao auditório de Terra Nova —, não havia scorps por perto quando chegamos, mas eles devem ter ouvido ou sentido a pancada quando nosso… ah… pacote pousou. Aqui está o primeiro investigador, um minuto e vinte segundos depois. Agora a imagem estava mudando abruptamente a cada intervalo de dez segundos e mais scorps apareciam em cada cena.

— Vou congelar a imagem por aqui — disse a oficial de ciências —, de modo que possam estudar os detalhes. Estão vendo o scorp à direita? Olhem a garra esquerda, com não menos de cinco daquelas faixas de metal! E ele parece se encontrar numa posição de autoridade, pois nas outras imagens que se seguem os demais scorps saíram do seu caminho. Agora ele está examinando a misteriosa pilha de lixo que acaba de cair do céu. Esta é uma imagem particularmente nítida. Reparem como ele usa as garras e os palpos bucais juntos, um para o uso da força, outro para o trabalho de precisão. Agora está puxando pelo fio, mas nosso pequeno presente é muito pesado para arrastar. Olhem a atitude dele, eu juraria que está dando ordens, embora não tenhamos detectado nenhum sinal. Pode ser subsônico — e agora vem um dos grandões. A imagem mudou abruptamente, inclinando-se num ângulo louco.